Uma história entre algumas, ao fazer um evento literário – O vendedor de poesias

Quando se participa de eventos, sempre acontece algum tipo de ocorrência que merece ser contada depois ou mesmo até reflexões durante esse tempo.

Desta vez foi no caminho para o segundo dia de evento da Steamcon Paranapiacaba.

Estávamos esperando na fila para pegar o ônibus para a cidade, percebi um sujeito que já dava sinais que sua presença seria notada e renderia comentários mais tarde.

Na fila esse sujeito se portou como um tanto “mala” com um casal de jovens, mas até ai aparentava ser só um breve papo de fila de ônibus.

Depois de que embarcamos, com alguns com dificuldade om o sistema da catraca com cartão de banco, que emperrava a fila e a paciência de quem precisava pagar a passagem desse modo. Uma dica para quem precisa pegar transporte público, trazer dinheiro trocado para não passar pelo vexame de ficar preso na catraca por isso.

Enfim na estrada para a cidade, conversando e admirando a paisagem verde, agradável por ser um dia que, por aquela hora da manhã, que prometia ser quente o restante do dia. Segundo o amigo que me acompanhava, por causa da neblina logo ao amanhecer, prenunciava um dia quente.

Eis o sujeito que na fila demonstrou o que eu suspeitava ser quem era.

Circulou pelo corredor e sentando em um ou outro banco vagos, falava para a pessoa “abra na página 22” e ai tascava dizendo que o poema era para ela.

Nem precisei chamar a atenção do meu amigo pois ele estava antenado no movimento do senhor de idade, oferecendo seu livro de poesias.

Não tinha como não perceber pois ele não nos abordou, apesar de estarmos conversando sobre livros e publicações. Talvez por perceber que éramos escritores e preferiu “pular” a vez de oferecer o seu livro, com receio de sermos críticos ou mesmo não querer comprar o livro dele.

A viagem foi breve, demorando cerca de meia hora ou menos. Ao saltarmos, vimos ele andando com uma pressa, apesar das ruas da cidade serem de paralelepípedos e com ladeiras íngremes, além dele ser um homem de certa idade.

Seguimos para o local do evento e avistamos ele abordando pessoas em um bar em uma quebradinha, antes da ponte que ligava o lugar onde desembarcamos e o outro lado da linha férrea.

Achamos graça e seguimos para o evento.

Logo que chegamos, montamos nossa mesa e ficamos atarefados em organizar os produtos e livros, além de atender os clientes interessados no que tínhamos para venda.

Dada uma certa hora, avistamos o senhorzinho do livro de poesia adentrando no local do evento. Chamei discretamente meu amigo, e ele percebeu a presença dele.

Novamente, foi abordando quase todas as mesas e pulou a nossa. Quando percebi a atuação dele, não contive uma risada. “Que medo esse cara deve ter de nós!” pensei, achando hilária a atuação dele.

Mas o melhor estava para vir, quando o vi abordando um casal que ficava em uma mesa quase em frente. Por ser próximo, foi possível ouvir o papo deles. Sabia que essa mulher, segundo as informações do instagram do evento, era especialista em poesia, só que vitoriana, toda empoada em seu traje de época. O sujeito lançou o mesmo papo de vendedor, que fizera no ônibus, em cima dela. O que ela respondeu, o desbancou, pois ela propôs trocar de exemplares ou poemas, algo assim, já que era colegas de poesia. Ele desconversou e saiu rapidinho.

O evento prosseguiu e durante o resto do dia, vi ele de novo, mas entrando e saindo rapidamente.

Em um dado momento, quis comprar sorvete de Cambuci. Após perguntar a uma pessoa que tomava o tal sorvete e me indicou o lugar que comprou.

Achei o lugar e eis quem vejo?

O senhorzinho da poesia, circulando pela rua, abordando as pessoas do mesmo jeito. Novamente quando me viu, saiu de vista.

Contei essa história não por menosprezar esse senhorzinho de idade.

Muito pelo contrário até.

Achei admirável que ele dedicou um domingo em que poderia estar diante da tv, do que se aventurar em um lugar como Paranapiacaba. Ou mesmo de usar um tipo de tática de vender seu livro, que poucos fazem mas que não sei se rendeu algo a ele, já que não vi ele vender nada enquanto o observava. Eu mesma jamais faria esse tipo de abordagem pois sou tímida e respeito o momento do passeio das pessoas. Acho invasivo e não tenho coragem de perturbar as pessoas.

Só sei que rendeu uma história a ser contada e para meu blog de escritora, que anda capengando. Agora, se foi boa, não sei, mas que achei curiosa e me fez refletir sobre métodos de vendas para livros e o quanto um escritor deve se dedicar para que sua obra alcance mais pessoas.

À medida que for lembrando de novas histórias, vou resgatando e escrevendo para que seja algo interessante e proporcionar uma boa leitura.

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